9 de abril de 2010

Canalhas em código binário

A "era da informática" nos trouxe muitas problemáticas como também muitas solucionáticas, mas acima de tudo nos trouxe mudanças que transformaram nosso cotidiano e nossa maneira de enxergar as relações com o mundo e com as pessoas que nos cercam.

E como essa nova "era" passou a fazer parte da vida de todos nós, nossas relações pessoais passaram a determinar também boa parte do nosso círculo de amizades. É raro quem possa dizer que não tenha um "amigo" que tenha conhecido na internet e mantido a maior parte, senão a totalidade, desta amizade no ambiente virtual.

Não são menos amigos por isso, não são menos queridos, por não haver o contato físico.

Essa situação cria uma nova forma de interpretar os atos dos outros. Um "amigo da internet" nos ofende mais se nos bloquear no MSN do que se não nos chamar para a festa de um ano do seu primeiro filho. Incrível mas é verdade.

A pessoa vê o album de fotos postado em alguma rede social dessas e comenta, participa, fica feliz mesmo sem ter ido à festa. Mas fica muito chateado se alguém menciona que o outro está online naquele momento e descobre que foi bloqueado.

Não vou entrar no mérito disso ser sadio ou não, normal ou não, nada disso. Não vai aqui nenhum juízo, apenas uma constatação.

Essas amizades modernas tem sua dimensão bem definida, clara e todos aceitam isso numa boa. Lógico que não é um dogma, pelo contrário, é bastante flexível. Quem nunca participou de um encontro do IRC, de alguma sala de chat, do Orkut e, mais recentemente, do Twitter?

Essas amizades podem (e é bom quando isso acontece) pular do virtual para o real, materializando-se. Mas também percebo que, muitas vezes, ainda que isso ocorra, mesmo no tal "mundo real" elas continuam girando e sendo definidas a partir das relações que ocorrem virtualmente (detesto esse termo, mas não consigo pensar num melhor agora).

Conversamos sobre o que se passa na rede, gostamos ou não de alguém baseado na experiência que vivenciamos na rede, o real torna-se quase uma holografia do que se passa ali. Só o que muda é que as possibilidades de agradar e ofender duplicam-se. Conselho: a partir daí, não bloqueie no msn e chame para a festa do seu filho. É a melhor política.

Mas não sou um desses saudosistas bobos que acham que boa era a época da pracinha, dos vizinhos conversando no portão. A internet apenas possibilitou que sua pracinha e seu portão se expandissem e pudessem estar em qualquer lugar, a qualquer hora.

E provou também que qualidades e defeitos são universais. Existem canalhas de carne e osso e em código binário, assim como verdadeiras e boas amizades.

20 comentários:

  1. Essa é a realidade da era da informática

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  2. Excelente texto amigo Sérgio.
    Adorei a analogia com a pracinha. Creio ser muito boa e verdadeira.
    Certamente na internet encontraremos bons amigos e os canalhas em código binário (adorei o termo usado pelo amigo). E na pracinha tem-se o mesmo problema, pois se chega um estranho na nossa rodinha de amigos não sabemos o que esperar. Não é verdade?
    Parabéns pela excelente reflexão amigo.
    Forte abraço, Fernandez.

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  3. Muito bom texto.
    Concordo com isso, e inclusive faço parte desta parcela de pessoas que tem amigos virtuais e nunca os viu pessoalmente, mas sabe muitas coisas da vida da pessoa. É interessante esse tipo de amizade e, às vezes, parece que somos amigos de infância. Tenho amigos virtuais de mais de 5 anos. Mas boas amizades.

    Abraços

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  4. Sérgio,seu artigo é extremamente relevante.Eu fiz muitos amigos,uns ótimos, outros nem tanto...como você citou a praça só se tornou mais extensa,mas as relações continuam as mesmas embora separadas pelo monitor.
    Bjos

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  5. Olá Sérgio,
    Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a amizade virtual não é fria, impessoal e desprovida de sentimento.
    Não, bem pelo contrário, a amizade virtual pode ser singela, surpreendente e sincera.
    O amigo virtual é aquele que mesmo nunca tendo nos visto pessoalmente, nos admira e respeita pela nossa essência.
    Não importa se somos brancos, negros, altos, baixos, gordos, magros...
    Não importa se temos carro do ano, se a nossa casa é rica ou se não temos nada.
    Meu carinho

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  6. Muito bom texto Sergio .
    Eu concordo com meus amigos virtuais que postaram seus comentários antes de mim . E acrescento que uma boa amizade virtual não tem aquela cobrança muitas vezes dos amigos não virtuais . Além disso os amigos virtuais estão quase sempre disponíves , basta ligar o computador e acessa-los .

    abs

    Francisco

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  7. Murilo,
    esta na hora de todo mundo se mobilizar !
    Sabemos muito bem o que uma tragedia como essa significa . Aqui no Rj também passamos por esta situação no inicio do ano .

    abs

    Francisco

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  8. Sérgio,

    Você foi magnifíco nesta postagem.

    O seu texto relata a verdade cibernética, pois os amigos virtuais, acabam tornando-se virtu-reais, e começam a fazer parte do seu dia a dia, dos seus comentários com familiares, dos seus sonhos etc...

    É uma realidade virtual, e com esta realidade, podemos crescer e aprender muito... São as novas conquistas...

    Adorei!

    Bjs.

    Rosana.

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  9. Amigo Sérgio, devo parabenizá-lo pela matéria de excelente qualidade e conteúdo. Temos que acompanhar a modernidade, e se esta nos conduz ao mundo virtual, devemos segui-la. As amizades virtuais são tão importantes quanto as reais, e, muitas vezes, acabam tornando-se mais importantes dos que as reais. Parabéns pela postagem. Abraços. Roniel.

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  10. Sérgio,
    O que faz a amizade não é somente o contato físico. Contato físico pode simplesmente significar uma luta de judô ou duas pessoas rolando na cama.
    O que faz a amizade é o respeito, admiração e companheirismo. E isso bem cabe, também, na relação de um casal.
    Achei seu texto excelente.
    Abraços fraternos

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  11. bah eu tenho otimos amigos virtuais, pessoas q admiro mesmo, naum acho q o fato de serem virtuais o torne menos amigo meu!
    bjo grande

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  12. Olá Sérgio!
    Adorei ler o que escreveu.Há pessoas que não acreditam nesta amizade virtual.Outras que tem a sorte, como eu, de saber qual pode ser sua força e influência em nossa vida. Já fui em festinhas de aniversário de criança,em que mais parecia estarmos em um desfile infantil de moda e que os sorrisos eram de alumínio,como costumo dizer.rsrs... Aqui, eu posso me sentir recebendo alguns amigos em meu quintal, e já ofereci meu jardim e até meu sofá, aos amigos do coração.E foi sincero.
    Quanto ao MSN, não sei o que é bloquear um amigo e deve ser como "levar com a porta na cara", não é? Mas a gente gosta mesmo é de quem tem que gostar e, como num encontro real, as amizades se tornam importantes na medida em que há realmente empenho e desejo das duas partes, em cultivar este relacionamento.
    Se quiser me bloquear, escreva com todas as letras, tá bem?(depois me ensine como eu consigo saber isto. aliás, deixa pra lá;nem quero saber!)
    Carinho,
    Vera.

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  13. Simplesmente PERFEITA sua crônica, Sérgio!
    Penso que o vértice que une "vida real" e "vida virtual" é que, sendo ao vivo ou não, pessoas podem ser boas ou ruins!
    Não existe mesmo essa de "aquele que conheci na internet"!
    O que ocorre é que você, de repente, nunca escutou a voz, nem viu o jeito como o outro se alimenta, mas aquela pessoa EXISTE!
    Se mente sobre sua personalidade via internet, vai mentir na "cara-dura", na sua frente, e durante anos, como acontece, por exemplo, com vários casamentos baseados em falsidade ou amigos que nunca foram amigos de verdade, só queriam te sugar...
    Claro que a forma de se expressar vai ser diferente, o código será outro, como você fantasticamente falou.
    A maneira de magoar pode ser bloqueando alguém no MSN, ou não adicionando no Orkut, sei lá, "N" situações que podem demonstrar falta de carinho e respeito por um amigo. Como seria ao vivo, alguém visitando o outro, só para pegar algo emprestado, na total prova de puro interesse...
    Adorei você dizer também que não é saudosista porque, afinal, alguém sentir saudade do portão, das fofocas de fim-de-tarde, do papo-furado via carta, é ser bem "sem noção" porque, afinal, a maldade estaria sendo a mesma: falar mal do seu semelhante!
    Um forte abraço,
    Mary :-)

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  14. Ah, estou levando o seu banner lá para o Fatos de Fato!
    Vou divulgar mais os blogs dos amigos!
    Mary:-)

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  15. SAUDAÇÕES!
    AMIGO SÉRGIO
    A matéria é verdadeiramente autêntica, fotografa e revela a atualidade dos relacionamentos virtuais e por que não dizer dos reais.
    Eu acho amigo, que os problemas se dão quando o “amigo” parte para a construção da amizade “armado”, cheio de melindres, ocultando-se, abrindo somente um ferrolho da janelinha, aí as coisas tendem a complicar-se, agora, quando os amigos iniciam os relacionamentos abertos, respeitando a si e aos demais a tendência natural é se construir uma amizade sadia, fraterna e repleta de paz.
    Parabéns por sua análise e por mais um excelente Post!
    Abraços,
    LISON.

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  16. Pois é, mas temos que ficar atentos e muito atentos para não cair em ciladas...
    Muita gente traz pro mundo virtual uma vida que não é sua, são verdadeiros 'fakes' que inventam histórias mirabolantes pra boi dormir e muita gente cai e fica 'lambendo' igual maria-vai-com-as-outras.
    Quando já se conhece pessoalmente e há amizade virtual é diferente, você sabe com quem está lidando.
    Mas quando a gente não vê a pessoa, realmente nem sabe se existe (ou é fantasiosa) é complicado.
    Na web muita gente iventa tanta mentira que eles próprios acreditam no que dizem, é uma cilada.
    Amizade virtual, coisas de internet é saudável, mas eu sempre tô com um pé atráz.
    Confio piamente só no que conheço (e vejo).
    Excelente post. Muito digno! Abraço

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  17. E você, Sergio, é um exemplo disso. Eu o tenho e considero um verdadeiro amigo. Parece que o conheço há muito tempo, e nunca nos vimos. Aliás, precisamos agendar aquele encontro na Lapa. Eu não esqueci!

    Adorei sua postagem!

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  18. Boa noite amigo Sérgio..
    assim é! Não podemos voltar a um passado jurássico, pois não conseguiriamos mais viver sem um computador. Mas também não sejamos extremistas de esquecer o mundo real.
    Ele existe (ainda) e nosso conflito é conciliar esses dois mundos que já estão tão interativos que já nem sabemos mais distinguir onde começa um e termina o outro e vive-versa...
    Parabéns pelo texto!
    Sonia Costa

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  19. Sérgio, querido!
    Que texto sensacional! Estou aqui refletindo e o li, reli, parei, voltei a ler...rs... Eu só posso parabenizá-lo por colocar com tanta coerência essa realidade virtual. Onde está a pessoa verdadeira é uma pergunta que sempre me faço e fico procurando vestígios de sua existência. Óbvio que percebemos alguns indícios e conseguimos detectar onde a fantasia se mostra, escondendo a "pessoa" que há por trás. Eu, talvez inocentemente, sou eu mesma. Não tenho o que esconder. Sempre digo que sou muito bem resolvida com a minha identidade e vida. Tenho minhas precauções, claro! Me protejo como posso, mas não me escondo. Na minha vida sempre procurei permitir que apenas as pessoas verdadeiras (e entenda o sentido literal)entrassem em minha casa. Minha casa é o meu santuário. Eu não costumo bloquear "amigos" no msn...apenas os ignoro. Quem não me agrega, tanto no real quanto no virtual, automaticamente está fora da minha simples vida.
    Grande texto, querido! Parabéns incansáveis!
    Abraços,
    Jackie

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  20. É a mais pura realidade! Digo isto, porque sei bem o que estou sentindo ao não conseguir acessar o diHITT.Estar aqui, agora, desta forma, vindo por outros caminhos é o mesmo que conseguir entrar em uma festa pelos fundos e empurrando o segurança.

    O mundo toma outras formas e a gente se adapta a elas. Sentar-se em frente ao pc e caminhar pelos quintais e salas de outros amigos no mundo cibernético é viajar literalmente, em um sonho criado. O que sentimos, vivenciamos e agregamos levamos conosco ao desligar a telinha. E são intensos, acredito que pela rapidez com que se processa. É mente lidando com mente. Fonte direto na fonte.

    É o nosso mundo paralelo. O resultado disto só o tempo poderá responder.

    Valéria (via Vivi)

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