1 de março de 2010

A Sensacional World Wide Web

O paradoxo da internet é que distância os próximos e une os distantes.

Ao abordar o perfil dos adolescentes e jovens, o que querem e como são as relações com família, amigos e conhecidos, os veículos de comunicação não cansam de repetir sobre o distanciamento presencial e a simultânea empatia com o 'mundo encantado' da World Wide Web.

Assim como eles, adultos também carregam sua bolha de ar portátil, fecham-se em sua concha imaginária, lacram-se em seus apertamentos (sem sequer conhecer ou cumprimentar o vizinho de porta!).

Esse isolamento voluntário de milhões de indivíduos contribui para a construção de realidades particulares, imaginárias, centradas num 'eu' gigantesco e ensimesmado.

Reinventando a Caverna de Platão, percebe-se que as pessoas vivem fechadas em seu mundinho particular, enxergando somente o que querem ver. Ocupadas demais com os próprios problemas e em alardear aos quatro cantos seu "imenso" conhecimento, distorcem a realidade (vista como sombras).

O distanciamento interpessoal e o individualismo são consequências do sistema capitalista, que transfigurou o 'ser humano' em interesse; networking; vantagem; competição; dinheiro; consumo; bens; status; eminência.

Ao mesmo tempo, o bicho-homem precisa do coletivo, pois se sente frágil, solitário, não-compreendido, mal-amado; perdido na imensidão de egos desencontrados. Espera daqueles que lhe são próximos atenção, companhia, palavras de alento, sinceridade. Nesse cenário de indiferença, do "salve-se quem puder", gentilezas sutis ainda fazem a diferença.

Recordo minha ida a Salvador, sentado para o café da manhã no restaurante do hotel, onde uma baiana tradicional, morena sorridente de meia-idade, entregava talheres e guardanapos limpos. Um sorriso meu como retorno, acompanhado de "bom dia", "por favor", "que manhã linda!" ou "como você está hoje?" retornam comentários de "como ele é educado!". Atitudes e frases simples, sinceras e positivas modificaram o dia de trabalho, e a alegria, de uma desconhecida.

Infelizmente, o homem nem sempre age dessa forma em relação a seu semelhante. Para substituí-lo, ele adotou o animal de estimação. Cães, gatos e outros "entes queridos" estão lá para nos ouvir, aceitam-nos como somos, não reclamam (mas ficam tristes) se gritamos com eles e sempre estão prontos para um passeio onde quer que seja. Eles são como personagens que ratificam a imagem que fazemos de nós mesmos. Se nos aceitam, é porque somos pessoas agradáveis, corteses, de bem com a vida, "zero defeitos".

Essa é a "verdade" que o homem concebeu para si mesmo e na qual vem se afundando: individualismo, egocentrismo, isolamento, indiferença e solidão.

Até chegarmos todos à loucura.

14 comentários:

  1. Achei um excelente post amigo Sérgio! Realmente o contato humano consegue nos contagiar. E o ser humano fica realmente cada vez mais fechado em um casulo, pois prefere se idealizar do que trocar experiências e, as vezes, mostrar seus defeitos.
    Quanto a loucura... não sei se já cheguei a este ponto, mas desde que tenha acesso a banda larga quando chegar lá, tudo bem... ;-) rsrs
    Parabéns pelo artigo! Adorei!
    Forte abraço, Fernandez.

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  2. Sérgio,

    O seu post me emocionou... Mas eu explico... Em 18/11/2001, uma semana após o acidente com o WTC, eu participei do I Congresso Internacional dos Valores Universais, pelo Palas Athena, aqui no SESC em São Paulo.

    O meu tema era sobre a Internet, e a pauta era a seguinte: Internet - A Paidéia dos Novos Tempos.

    O mais interessante é que você tocou num ponto muito relevante, que é falar sobre o mito da Caverna de Platão, o qual foi muito bem explorado neste meu trabalho.

    Só posso dizer que adorei participar do Congresso e apresentar um tema tão abrangente, mostrando que a WWW não é somente um veículo de inutilidades, mas sim, uma nova forma de aprendizado, de cultura e também de lazer.

    Parabéns pela matéria.

    Bjs.

    Rosana.

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  3. Olá Sérgio!

    O tema que abordas dá pano para mangas! Embora eu acredite que a grande maioria das pessoas, jovens e menos jovens, mantêm (em média) uma relação saudável com o isolamento provocado pelo WWW, espero que daqui a alguns anos ela se consiga manter.

    O isolamento causado pelo mundo virtual trás consequências para a saúde física e mental das pessoas, isso é um facto, no entanto eu acredito que funcione como qualquer novidade. Enquanto o for tem que ser aprendida, apreendida, absorvida... e isso provoca desequilíbrios. Depois de satisfeitas todas as curiosidades, o discernimento e critério no que realmente interessa acaba por vencer.

    Parabéns pelo artigo.

    Abraços
    Luísa

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  4. Olá amigo Sergio!!!

    Gostei muito desse assunto ao qual o amigo abordou,eu particularmente me afastei um pouco da net por algo parecido,estava viciada e achei que deveria me afastar um pouco e dar mais atenção a minha filha e também ler um bom livro,estudar um pouco e etc...

    Muito bom este tema.

    Um grande abraço da kacal.

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  5. Perfeita leitura Sérgio. A Web tem mesmo esse paradoxo de nos fazer mais solitários enquanto virtualmente coletivos. Do nosso quarto achamos que podemos abarcar o mundo. No entanto, esquecemos que precisamos do contato real com o nosso próximo. Sim, aquele próximo de carne e osso da esaquina e não os "avatares virtuais" dos twitters da vida.
    Creio que o que mais necessitamos seja de equilíbrio... Afinal, nem a própria internet seria internet sem vidas pulsantes.

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  6. Olá querido amigo Sergio,

    Excelente texto. Esse assunto W.W.W é muito interessante e oportuno.

    O ser humano é um ser essencialmente social, mas está se distanciando da sociedade, perdendo a cordialidade com as pessoas e se fechando em sua individualidade e aliando-se ao mundo virtual. Este, se não utilizado com equilíbrio,bom senso, razão e na dose certa, vicia, leva ao stress, à desorganização emocional e daí, para a loucura, faltam poucos passos.

    Olha amigo, esse tema, num debate mais criterioso, daria kilômetros de linhas a discorrer.

    Parabéns pelo post.

    Carinhoso e fraterno abraço,
    Lilian

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  7. Eu gosto muito do mundo cibernético. Mas concordo que nada substitui o contato humano, apesar da INTERNET ter diminuido a distância.. e estreitado laços...

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  8. Olá Sérgio!
    Como fiquei feliz em ver este seu texto aqui!Bem escrito, como sempre e trazendo questionamentos importantes.
    A internet traz sim um paradoxo, eu que o diga, meu amigo! Comigo aconteceu o inverso..a solidão, falta de amor à própria individualidade me levou a ela, e então a gente descobre que não está sozinho no mundo! E o grande paradoxo que vivi( e vivo no momento) é que, o exagero no enfoque do "para nós" que eu vivia, pode se transformar no "eu",e então, uma pessoa voltada ao outro,como eu era, volta-se a si mesma na net "social", onde percebe sua existência individual. Talvez seja o efeito do pêndulo, ou talvez seja mesmo pra ser assim - a www. ser o lugar onde poderei exercer minha individualidade e, com sorte, ainda contar com "amigos" que a gente aprende a aceitar, como são.
    Mais um paradoxo acontece neste instante quando, a individualidade livre enfim, sente novamente falta do outro, e o deseja abraçar verdadeiramente, não apenas no virtual. E isto ocorre, não por não ter tentado exercitar tal amizade com os que estão no seu entorno, mas por ter encontrado outros, na net, que valorizem mais esta atitude, pois parecem já ter se dado conta do que é a solidão.
    Acho que é como um 2º casamento em que, com cuidado e amadurecimento, respeitando as experiências, é possível se chegar a um equilíbrio. Assim espero seja minha relação com a www.: ao mesmo tempo que Sr. Blog me salvou, iluminando com a luz do sol o meu "eu", pode me fazer lembrar,da necessidade de não desistir e de investir em atitudes que busquem ter alguém real ao lado, com quem seja importante compartilhar abraços e o que mais precisar se materializar no concreto. Este é o lado bom que não podemos esquecer - tentar realizar o desejo de relacionamentos mais reais, mesmo que inspirados pelo virtual.
    É complicado e apaixonante este assunto!
    Que bom poder ter vindo aqui tomar um cafezinho com você, meu querido amigo!
    Abraço, Vera.

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  9. Tenho um selo para você em meu blog, criei para os amigos aqui do Dihitt segue também um lindo poema, nos visite e pegue o seu selinho.

    Obrigado


    Abraços!

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  10. Oi,
    Sèrgio
    passando para uma visitinha básica, para ficar bem informada e ver as novidades... também para avisar que tem um selinho pra você lá no banana com farinha.. não sei se vc já foi indicado mais passa lá..
    Beijão no seu coração e fica com Deus

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  11. O interessante é que este aspecto também me fez, há pouco escrever um post sobre este mesmo assunto. É realmente um paradoxo interessante este distanciamento dos próximos e aproximação dos distantes.

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  12. Sergio, querido, eu andava incomodada com 2 coisas, uma delas voce expos aqui. A gente se tranca numa caverna e abre a porta para um mundo virtual. Depois, algumas coisas estavam me desagradando demais no dihitt. Eu não gostei do que acabei descobrindo. Talvez eu volte em breve por causa de poucas pessoas bacanas, como vc, que valeu muito a pena conhecer. Pelo site, não medirei mais esforços, especialmente porque o Pablo permite coisas que não compactuo.

    BEIJOS

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  13. Saudações!
    Que Post Fantástico!
    Amigo Sérgio, o seu artigo aborda com profundidade, uma moldura perfeita da atual realidade. O bem produzido por desejar um, Bom Dia! Um aperto de mão e um abraço são imensuráveis!
    O WWW, deve ser e continuar sendo apenas um recurso para a criatividade, trabalhos e momentos de lazer.
    Parabéns por mais um magistral texto!
    Abraços,
    LISON.

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  14. Olá Sérgio,
    bem oportuno seu artigo.Por pura coincidência veio me parar as mão um artigo do padre Júlio Lancellotti que tem muito a ver com seu post.

    "A paz consigo e a paz com o outro fazem parte de uma mesma experiência, da mesma vivência. Quem vive nos centros urbanos e se fecha totalmente, achando que assim está em paz, na verdade está vivendo a solidão.O que está acontecendo muito é o individualismo, o egoísmo. Isso leva à intolerância, à incapacidade de aceitar quem pensa diferente, de aceitar o outro. A paz não é o isolamento. Nem numa ilha nem no seu dúplex com ar-condicionado. Precisamos ter relações com os outros.

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