31 de outubro de 2009

A difícil arte de pensar

O poeta Ted Hughes fez uma série de conferências pelo rádio, dedicadas a alunos do ensino básico, para estimulá-los a escrever poesia. Algumas dessas conferências estão reunidas num livro curto, chamado Poetry in the Making. Segue abaixo o trecho de um capítulo traduzido, intitulado “Aprendendo a pensar”.

Assim como existem pessoas que ficam correndo de um lado para outro, cuidando das coisas, enquanto outras simplesmente ficam sentadas –o mesmo acontece com a mente das pessoas. Alguns cérebros ficam se agitando e trabalhando e lembrando e questionando coisas o tempo inteiro, e outros cérebros ficam só deitados cochilando e mudando de lado às vezes.

Ted Hughes diz pertencer ao segundo grupo de pessoas.

Na escola, eu ficava atormentado com a ideia de que eu tinha pensamentos na verdade muito superiores ao que eu poderia por em palavras. Não é que eu não conseguisse achar as palavras, ou que os pensamentos fossem profundos e complicados demais para por em palavras. Simplesmente, quando eu tentava falar ou colocar no papel os pensamentos, eles tinham sumido.

[...] Por alguma razão, eu fiquei muito interessado nesses pensamentos que eu nunca conseguia pegar. Às vezes nem dava para chamá-los de pensamentos; eram uma espécie de sentimento obscuro a respeito de alguma coisa. Não se inseriam em nenhum tema particular –história, aritmética ou coisa parecida [...]

Acho que você pode ver o que estava acontecendo. Eu estava pensando direito, e mesmo tendo pensamentos que pareciam interessantes para mim, mas eu não conseguia segurar esses pensamentos dentro de mim, ou pescá-los quando os queria. [Acho que] a maioria das pessoas tem esse mesmo problema. Os pensamentos que as pessoas têm são flutuantes –só um lampejo, e depois desaparecem—ou, ainda que elas saibam que sabem alguma coisa, ou têm idéias sobre alguma coisa, não conseguem cavocar até chegar a elas quando querem. As mentes delas, na verdade, estão fora do alcance. É uma coisa curiosa dizer isso, mas é absolutamente verdadeiro.

Existe a vida interior, que é o mundo da realidade básica, o mundo da memória, da emoção, da imaginação, da inteligência, do bom senso, e que funciona o tempo todo, conscientemente ou não, como o bater do coração. Existe também o processo do pensamento, pelo qual entramos nessa vida interior e capturamos as respostas e as evidências que nos dão base para tratar das questões que vêm de fora. Esse processo de vasculhamento, de persuasão, de emboscada, de caçada, ou de rendição, é o tipo de pensamento que precisamos aprender, e se não o aprendemos, nossas mentes ficam dentro de nós como os peixes no lago de uma pessoa que não sabe pescar.


Traduzido por Marcelo Coelho

5 comentários:

  1. Excelente artigo !

    O pensar é muito complexo e de dificil compreesão, principalmente quando somos jovens, muitas perguntas, várias fantasias e inúmeras hipoteses.

    Quando amadurecemos os pensamentos acabam tendo uma organização mental mais relevante, controlamos mais as emoções nos permitindo que as nossas idéias não fujam do nosso consciente.

    Muitas vezes nos deparamos com super idéias, mas a falta de organização mental acaba que, no meio surjam novas idéis em seguimento e por fim mistura-se tudo que quando vamos pensar no que pensamos a idéia central fugiu.

    Parabéns pelo blog amigo

    abraços !

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  2. Pensar é fácil, o difícil é transoformar o que se pensa organizadamente em palavras escritas. abs

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  3. Muito bom o teu artigo! Vi-me perfeitamente nele. Organizar os pensamentos e uma tarefa muito difícil e, na presença de determinados estados de espírito, impossível.

    Parabéns!
    Abraços
    Luísa

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  4. Por isto estou adorando visitar os amigos nos blogs! Pensava que isto não fosse muito comum( acontece comigo!).
    Só ouvia pessoas dizerem como suas memórias eram boas!
    Eu ficava cada vez mais preocupada com a minha e pensava... bem, minha memória deve ser como a geladeira antiga. O motor trabalha por um tempo, para o que é mais importante ( geralmente coisas que eu tinha que organizar para tudo sair perfeito no trabalho, família,etc)e depois, desliga ! (do contrário sobrecarrega e queima!)
    Me esforçava para ser eficiente em tanta coisa,que depois, minha memória desligava quando eu queria lembrar algo que interessava para mim, pessoalmente. Hoje em dia, já nem sei por anda anda!
    Abraço.

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  5. Minha querida!

    É preciso cavocá-las, para que desembaracem e fluam. Nossa mente está repleta de coisas, pessoais e particulares.

    Um forte abraço e um grande beijo!

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