23 de outubro de 2009

Os gritos não derrubam árvores, tampouco mudam pessoas

A paz que podemos construir

Barricadas nas ruas de Porto Príncipe, carro bomba explode em Bagdá, conflitos intermináveis na Faixa de Gaza. Ao contrário do que pensam alguns o Brasil não é o “jardim do édem”, tão pouco o guardião da paz.

Há um crescimento endêmico de violência que tem culminado na deterioração de nossa sociedade. Esta síndrome de pânico nos cerceia de tal maneira que trancados, atrás de nossas barras de ferro, limitados por cercas elétricas, por senhas de monitoramento eletrônico nos sentimos reféns. Não para menos, os assaltos, seqüestros, assassinatos, a violência esta por toda parte. Tornamo-nos espectadores desta condição insalubre que vitimiza a todos, crianças, idosos, ricos e pobres. Como se não bastasse este estado de sítio, a violência doméstica em suas múltiplas versões como violência física, sexual, psicológica ou incúria também faz parte de uma triste realidade.

No caso da violência psicológica ou emocional, em alguns casos pode até ser mais prejudicial que a física. Rejeição, depreciação, discriminação, humilhação, desrespeito são elementos presentes neste tipo de agressão. Trata-se de uma violência que não deixa marcas físicas visíveis, mas emocionalmente abre feridas permanentes. Alguns agressores verbais disparam contra membros da família, nos momentos mais constrangedores. A violência que se traduz em palavras -como tiros não mais retornam-, e na realidade, nesta categoria muitos passam de espectadores a coadjuvantes.

Recentemente li um artigo sobre as Ilhas Salomão no centro oeste da Oceania. Em algumas pequenas vilas eles têm uma estranha crença, se uma árvore é muito grossa para ser derrubada com um machado, eles gritam com ela durante trinta dias, acreditam que depois deste período de exposição aos gritos a árvore morre e cai. Estes inocentes supersticiosos nativos que não desfrutam de nossa tecnologia… Nenhum de nós gritaria com as árvores, não… Nossa prática é outra, gritamos com o cônjuge, gritamos ao telefone, gritamos com nossos filhos. Alguns serrando o punho gritam até com Deus, gritamos com o motorista do outro carro. Nós educados, civilizados, não derrubamos árvores com nossos gritos, preferimos uma outra modalidade.

Sabemos que tiros, pedras, quebram nossos ossos, ferem nosso corpo, mas nossos gritos quebram e ferem o coração. Talvez não possamos fazer muito pela paz no mundo, ou mesmo no Brasil, mas podemos começar com a paz a partir de nós mesmos. Afinal de contas esta é única parte do mundo sobre qual podemos efetivamente decidir como será.

Por Leandro Tarrataca

Nenhum comentário:

Postar um comentário