23 de agosto de 2010

Encontro casual em Paris

Depois de algum tempo afastado do blog, por necessidade de trabalho, estou de volta.

No tempo em que estive viajando, passei por diversos lugares e conheci muitas pessoas, profissionalmente e interpessoalmente.


Uma das pessoas que mais me chamaram a atenção nesta viagem foi Carla. Uma jovem linda, de corpo invejável, um sorriso encantador, com olhar distante e vazio. Como quase a totalidade dos brasileiros fora daqui, com muita saudade da nossa terra.


Casualmente a encontramos em um restaurante em Paris, enquanto minha esposa e eu esperávamos mesa para jantar. Ao perceber que éramos brasileiros, a garota aproximou-se e se apresentou. Em uma breve conversa, cerca de 20 minutos, disse que era de São Paulo e que trabalhava em Paris há cinco anos. Dissemos que ficaríamos alguns dias na cidade e a convidamos para jantar na noite seguinte.


Ao telefone marcamos o lugar, horário e nos encontramos. Depois de algumas taças de vinho e muita conversa alegre, a jovem nos surpreendeu com o porquê de sua estada em Paris. Ela estava na Europa há cinco anos trabalhando como garota de programa. Mas não uma garota de programa qualquer, fazia programas caros, salientou ela.


Ela nos disse que era paulista, tinha 25 anos e que deixou a casa dos pais no interior do Estado para viver como garota de programa de luxo em Paris. Carla em nada lembra garotas que oferecem sexo por trocados nas ruas e praças. Certamente ninguém que não a conhece imaginaria que a estudante universitária, que mora em um bairro nobre da cidade parisiense, encontrou no próprio corpo uma fonte de renda, uma forma de sustentar-se em uma das cidades mais caras do mundo.


Longe das ruas e livre de cafetões, a paulista de uma família de classe média e estabilizada no Brasil, não conseguiu libertar-se do preconceito que ronda a profissão que escolheu quando tinha 19 anos, não se libertou do preconceito alheio e nem mesmo do seu próprio preconceito. É raro encontrar garotas de programa que dizem a profissão sem demonstrar descontentamento ou mesmo enaltecer o que escolheram.


“Não é fácil conviver com isso. Primeiro porque as pessoas te olham e julgam para depois saber quem é você, se é boa pessoa, se paga as contas em dia. Enfrentar o preconceito é uma coisa difícil, que machuca”, disse Carla, que sonha ter filhos e uma vida que ela mesma considera ‘normal’.


“Com certo tempo, aprende-se a ignorar certas coisas. Hoje não me importo com olhares atravessados. No começo foi um martírio. Se não soubesse o que queria, não teria vencido muitas coisas”, afirma a jovem, que consegue manter uma renda mensal de US$ 30 mil com clientes fixos, fora os programas extras. Ela acrescenta que o mínimo que recebeu por uma hora de programa foi US$ 700,00 e o máximo US$ 5.000 por uma noite.


De certo a jovem não se orgulha da profissão que escolheu por não ser moralmente correta aos padrões sociais. Mas em mais de cinqüenta anos de vida, já vi tantos padrões sociais serem radicalmente alterados e muitos até exterminados, que não me espantaria ver mais um ser aniquilado com o tempo.

Carla me proporcionou um outro lado desta profissão. Fez-me ver que essas profissionais precisam de mais dignidade e menos dedos em riste, lhes dizendo qual a moral a ser seguida. Afinal, se existe oferta é porque existe procura.

15 comentários:

  1. Sérgio,
    Vejo que seu passeio parisiense rendeu-lhe uma experiência e tanto.
    Também não acho certo apontarmos o dedo para as pessoas, por suas opções de vida etc.
    Antes de fazermos isso, temos que avaliarmos a nossa própria vida, pois ninguém é perfeito.
    Se esta moça escolheu assim, devemos respeitá-la por inteiro, e não somente da boca para fora.
    Por certo, há muitas outras garotas que a criticam, mas que gostariam de estar no seu lugar, ganhando o que ela ganha.
    Adorei a sua história.
    Bjs.
    Rosana.

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  2. Sérgio:
    parabéns pela ausência de preconceito.Ó mundo precisa mais disso. Realmente uma história inusitada.
    abçs
    Atena

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  3. Com tudo que venho passando, eu tenho certeza que ela é uma pessoa mais digna do que muitos que fingem ser alguem que não são. Cada um escolhe a maneira de viver, desde que viva sem fazer mal a ninguem, está muito bem.

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  4. Olá Sérgio!
    Quem não lembra deste filme?! Quando assisti,me deixei levar pela magia da versão moderna da história do príncipe e imaginei estar no lugar dela,sim. Até há pouco tempo ainda acreditei nestas histórias!
    Só que, na vida real, a profissão que ela escolheu, a gente sabe, é algo muito perigoso. Requer coragem,atenção a cuidados para saber como proteger-se, ser realmente independente e uma atitude mais realista do que a de mulheres, como eu, que sonham com a parte boa da história de ser salva pelo príncipe, que vai enfim, perceber o quanto de valor nós temos, para então, vivermos uma vida de amor.Nesta profissão, suponho que, para ser livre,como ela está, e obtendo sucesso, é preciso ser muito forte, independente,cautelosa e decidida ( ou talvez alienada e contar com a sorte).Não é uma profissão mais difícil que algumas outras,e na vida, todas enfrentamos momentos em que temos que ser corajosas,mas,sem dúvida,na profissão dela, para se ter sucesso,é preciso muitos predicados que "não são para qualquer uma".
    Tomara que ela consiga ser feliz e realizar os seus sonhos. Se eu tivesse uma filha nesta profissão, estaria aflita, pelos riscos que envolve!
    Bem vindo de volta! Que bom deve ter sido poder viajar, e conhecer as histórias de pessoas de lugares tão lindos, como os que foi! Bela aventura!
    Abraço, Vera.

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  5. Olá Sérgio querido!
    Bem vindo! Muito bom poder tê-lo novamente com textos tão prazerosos e envolventes como esse.
    Meu querido, eu mesma aprendi ao longo desses 41 anos de vida que muitas vezes discriminamos (mesmo que inconscientemente) pessoas boas, que não nos oferecem riscos, mas que por razões externas ou impostas como padrão aceitável, acabam sendo colocadas de lado. Muitas delas podem nos oferecer ótimas lições e reflexões (como no caso citado). Não discrimino e nem julgo. Não faço com os outros o que não quero para mim. Conheci muitas garotas de programa na faculdade que eram dignas e honestas, pagavam as suas contas em dia, não deviam nada à ninguém. Muitas delas eram até procuradas por muitos "amigos" hipócritas e falsos moralistas para socorrerem suas dificuldades financeiras. Concordo com a Vera na questão do risco, mas acho que a própria vida oferece riscos constantes, portanto, viver é se arriscar mesmo e sem a valentia e bravura para se permitir passar por experiências diversas, deve ser muito monótono.
    Grande beijo e parabéns pelo texto!
    Jackie

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  6. Muitas pessoas condenam o que não são como elas gostariam.

    Não posso dizer se submeteria a isto,porque nunca estive no limite da vida. Mas, como jornalista já vi, assisti e relatei fatos de mulheres que - não por opção, mas condição - assim se fizeram.

    Uma delas, uma vez me disse: não tem o médico? Não existe o lixeiro? É esta a minha função. E é como vc disse, de tem oferta, tem procura! E quem tá certo ou errado nesta história. Melhor não julgar.

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  7. Sérgio, boa noite!
    Senti falta dos seus textos, que bom que você está de volta. Achei muito bacana o seu artigo e a forma com que tratou o assunto.
    Parabéns!
    Abração,
    Alexandre Silva

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  8. Bom dia, meu Lord!
    Fui "transportada" para teu Blog agora em razão de um comentário que fazes no meu.
    Mas está riquissimo esse material informativo, noticioso aqui, Sergio, querido.

    Olha, não pude deixar de querer dar uma notinha nessa postagem.
    Discordo de ti, democraticamente falando, sobre a escolha dessa mulher na profissão. De dignidade não tem nada.

    Se formos ver pelo lado "da esposa, companheira fiel e escudeira" que espera pelo seu par em casa, essa criatura tem nome, porque desvia conscientemente um homem do compromisso matrimonial ou seja lá que nome se dê. Discordo, assim como considero abominável dizer que conseguiu estudar, fazer faculdade ou se manter porque usou o corpo. Que grande decadência! Esses homens ou mulheres ainda tem outro componente importante: transmissores ativos de doenças transmissíveis a ingênuas companheiras que os esperam para dormir na mesma cama.

    Desculpa te falar assim, mas sabes que a transparência é meu chão.

    Essas meninas que temos aqui no Brasil fazendo o mesmo não são ignorantes. A dignidade está na escolha, meu Lord.

    Um beijo afetuoso e parabéns pelo posto do teu Blog. Encantada.

    Maria Marçal - Porto Alegre - RS

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  9. ola sergio tudo bem !
    onde posso encontrar a carla,
    estou morando em paris

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  10. oi sergio tudo bem ,
    meu nome eh patricia,
    voce tem contato com a carla?
    eu moro em paris
    voce consegue conversar com ela ainda,
    pois queria tirar umas duvidas .
    obrigada

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  11. oi tudo bem eu sou homem se eu consequice um emprego deste eu entraria na hora carla mim add
    estou em paris mim coloca neste ramo
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