18 de maio de 2010

Cobertura eleitoral


Estamos em ano eleitoral. Campanhas milionárias, promessas irrealizáveis e imagens produzidas farão parte, mais uma vez, do marketing dos candidatos.

Assistiremos, diariamente, a um show de efeitos especiais capazes de seduzir o grande público, mas, no fundo, vazio de conteúdo e carente de seriedade. O marketing, ferramenta importante para a transmissão da verdade, pode, infelizmente, ser transformado em instrumento de mistificação. Estamos assistindo à morte da política e ao advento da era da inconsistência. Os programas eleitorais vendem uma bela embalagem, mas, de fato, são paupérrimos na discussão das idéias.

Nós jornalistas somos (ou deveríamos ser) o contraponto a essa tendência. Cabe-nos a missão de rasgar a embalagem e desnudar os candidatos. Só nós, estou certo, podemos minorar os efeitos perniciosos de um espetáculo audiovisual que, certamente, não contribui para o fortalecimento de uma democracia verdadeira e amadurecida.

Por isso, uma cobertura de qualidade será, antes de mais nada, uma questão de foco. É preciso declarar guerra ao jornalismo declaratório e assumir, efetivamente, a agenda do cidadão. Não basta um painel dos candidatos, mas é preciso cobrir a fundo as questões que influenciam o dia-a-dia das pessoas. É importante fixar a atenção não nos marqueteiros e em suas estratégias de imagem, mas na consistência dos programas de governo. É necessário resgatar o inventário das promessas e cobrar coerência. O drama das cidades (segurança, educação, saúde, saneamento básico, iluminação, qualidade da pavimentação das ruas, transporte público de qualidade, responsabilidade fiscal, entre outros), não pode ficar refém de slogans populistas e de receitas irrealizáveis. Os candidatos deverão mostrar capacidade de gestão, experiência, ousadia e criatividade. Mas é preciso questioná-los a respeito dos temas de fundo que, aos poucos, vão moldando a cultura nacional.

Penso, por exemplo, no Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). É um assunto que não pode desaparecer das nossas pautas. O anúncio de Lula de que retiraria os pontos polêmicos se efetivou na quinta-feira passada. O presidente retirou as propostas polêmicas. A Igreja Católica, por exemplo, aprovou as mudanças com sérias reservas.

Segundo Dom Dimas Lara Barbosa, secretário-geral da CNBB, "o aborto não foi excluído de maneira incisiva. Quando diz que é problema de saúde pública, o que isso quer dizer? Se for outra forma de justificar o aborto, nada muda", disse o bispo.


As críticas mais duras vieram da presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO), que classificou as mudanças feitas no capítulo que trata da violência no campo como "uma maquiagem". O texto acabou com a audiência coletiva que estava prevista antes de uma decisão judicial sobre reintegração de posse de terras invadidas. Pelo novo texto, a mediação em conflitos agrários será feita pelo Incra, por institutos de terras dos estados e pelo Ministério Público.

"Não muda nada. Saiu a audiência e entrou a mediação. Não tem que ter interme-diação em decisão judicial. Não se pode abrir mão do direito à propriedade e do direito à segurança pública".

Não se pode permitir que as assessorias de comunicação dos políticos definam o que deve ou não ser coberto. Só assim, com equilíbrio e didatismo, conseguiremos separar a notícia do lixo declaratório. É o que o leitor espera de nós.

Por CARLOS ALBERTO DI FRANCO - Dr. em Comunicação

Um comentário:

  1. Excelente texto, meu querido Sérgio! até para quem não gosta de política, pelo menos não desta que se faz por aí.
    E concordo que o papel do jornalista é de extremo valor,neste momento.
    Abraço,Vera.

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